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O futebol brasileiro não será o mesmo depois da Copa do Catar

por Maureen Flores em 19 de Julho de 2022 11:11

Entrada maciça do capital financeiro, novo padrão de consumo da geração GenZ, atletas que fazem valer sua voz, streaming, tecnologias disruptivas, liberação das apostas, novos modelos de gestão e governança. Tudo isso aconteceu no futebol mundial desde a última Copa vencida pelo Brasil, há 20 anos. Por aqui, o futuro chegou, mas diminuto. O futebol nacional perdeu qualidade proporcionalmente ao crescimento da exportação de nossos talentos — nisso nos tornamos grandes. Na final da Champions League, os brasileiros representaram aproximadamente 50% do elenco e uma fatia ainda maior do PIB das quatro linhas. Será desses que se foram o mérito de uma vitória no Catar, mas a derrota será do gestor incapaz. Uma sinuca de bico, diriam os mais antigos.

O futebol nacional foi incapaz de acompanhar a mudança estrutural da sociedade, especialmente do conhecimento tecnológico, e se manteve estático, estacionário, face a dinâmica do crescimento econômico. A aprovação da SAF e da Liga acenam com a chegada do profissionalismo e da revisão de modelos arcaicos.

A SAF está disponível para pautar o caminho da gestão, da internacionalização e, gostem ou não, da inserção do futebol brasileiro no portfólio dos conglomerados empresariais que regem o esporte. A SAF certamente não é perfeita, mas deverá trazer segurança jurídica para investidores e possibilidade de solvência para clubes. A decisão de adesão é de natureza institucional e política.

Já a Liga... Ah! Dividida entre os grupos Libra e Liga Forte Futebol, discute uma divisão mais equânime dos percentuais. Apesar da falta de consenso, a boa notícia é que recentemente parecem ter desistido de pleitear a alteração do marco jurídico vigente. Como não existe tempo médio para aprovação no Legislativo, um longo debate retardaria a possibilidade de otimizar a comercialização de ativos e resultados financeiros. A economia ensina que contratos são incompletos e, portanto, melhor seria encontrar rapidamente o “ótimo de hoje” do que continuar com o pires na mão discutindo o porvir. O modelo não seria perfeito, mas resolveria uma grande parte dos problemas pois, como já se sabe, modelos, assim como as espécies, se adaptam e evoluem no tempo. Isto é, mandatórias ou voluntárias, oportunidades de renegociação surgirão no futuro. Vide a Premier League que, mesmo em desigualdade de condições, dividida em dois grupos de 6 clubes super ricos e 14 “ricos-mas-nem-tanto”, opulentou a ponto de o Parlamento apresentar a criação de uma agência reguladora independente para o futebol.

SAF e Liga serão os instrumentos de integração do futebol brasileiro ao sistema capitalista e os responsáveis pela mudança do paradigma vigente. Esses mecanismos, criados para substituir o que se tornou obsoleto, já foram implantados há tempos no mundo desenvolvido. Chegou nossa vez de modernizar ou agonizar.

No Catar, o futebol brasileiro, com ou sem a sexta estrela, não será vencedor. A “pedagogia da rua”, a escola que inspira nossos talentos, não é mais capaz de produzir futebol de qualidade sem a presença do grande capital e da inovação. A necessidade de gestão e governança é conhecida, resta as partes interessadas, ao olharem para o futuro, desistirem da moderação aristocrática e tornarem-se republicanos na virtude.


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