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As verbas de TV e o desequilibrado futebol brasileiro

por Alessandro Isabel em 19 de Agosto de 2014 13:22

Um tema ganhou a mídia esportiva nas últimas semanas e vem assustando dirigentes e torcedores do futebol brasileiro: é a chamada “Espanholização”.

Nela consiste a prática da emissora detentora dos direitos de transmissão das partidas do Campeonato Brasileiro, a Globo, de ceder muito dinheiro para poucos clubes e pouco dinheiro para muitos clubes.

O desequilíbrio financeiro provocado pelas negociatas individuais de cada equipe com a TV tem provocado reflexos negativos, sobretudo, dentro de campo. Equipes do “eixo Sul-Sudeste” recebem mais dinheiro, contratam melhor e conquistam os títulos nacionais.

Clubes que recebem menos, constroem elencos modestos, ficam na parte de baixo da tabela, provocam crises administrativas, perdem público nos estádios e novos torcedores. O objetivo dessas palavras não é absolver dirigentes, principalmente os baianos, e nem justificar as atuações de Bahia e Vitória nas competições nacionais, mas apontar injustiças com o torcedor que sofre por não ter um time competitivo.

A análise não é apenas uma opinião de quem escreve, e sim uma constatação ao avaliar os últimos clubes que conseguiram conquistar o campeonato mais importante no Brasil: o Brasileiro. Utilizei como base de apoio a chamada era dos pontos corridos, iniciado em 2003.

Nas 11 disputas com essa fórmula, apenas seis equipes conseguiram sagrar-se campeãs, todas da região Sudeste. Cruzeiro, Corinthians, Flamengo, Fluminense, São Paulo e Santos. Nenhum time fora do eixo Rio, São Paulo e Minas Gerais conseguiu erguer a taça e a tendência natural é que a realidade não mude.

A avaliação é simples: o problema não está apenas na fórmula da disputa – onde as equipes que tem melhores peças de reposição conseguem manter-se no topo. Estamos falando no formato injusto de distribuição das cotas de TV. Os citados campeões são os que mais recebem verbas e a perspectiva é que a situação se agrave ainda mais.

Observe como será feita a distribuição das cotas para os clubes em 2016: Flamengo e Corinthians receberão R$ 170 milhões por ano; São Paulo R$ 110 milhões; Palmeiras e Vasco R$ 100 milhões; Santos R$ 80 milhões; Cruzeiro, Atlético, Internacional, Grêmio, Fluminense e Botafogo R$ 60 milhões; Bahia, Vitória, Coritiba, Sport, Goiás e demais equipes da Série A R$ 35 milhões.

Diante dos números, conseguimos entender o termo “Espanholização”, derivado da Espanha, país europeu onde apenas duas grandes potencias – Real Madri e Barcelona - conseguem entrar no campeonato com condições de conquista.

O que se observa no Brasil é que estamos criando duas grandes potencias – Flamengo e Corinthians – e transformando a competição brasileira na espanhola, onde 15 equipes serão meras participantes e três ainda conseguirão beliscar as vagas da Libertadores. 

No Brasileirão 2014 é possível observar o desequilíbrio financeiro na tabela de classificação, onde os times que surgem no topo da 15ª rodada – Cruzeiro, Internacional, Corinthians, Fluminense, São Paulo e Atlético Minero – são as que mais recebem cotas de TV. Apenas e Flamengo não figura.

As consequências são diversas e já vem refletindo de forma negativa com a queda de audiência da emissora em TV aberta - segundo medição do Ibope, a competição tem perdido cerca de 10% de espectadores a cada ano. As excessivas transmissões das partidas de Corinthians e Flamengo para todo o país têm contribuído para a queda.

A emissora convocou dirigentes dos 20 clubes da série A para tentar formular uma receita para melhorar o produto Futebol. Bahia e Vitória serão representados por Fernando Schmidt e Carlos Falcão, respectivamente. Eles estão insatisfeitos com o tratamento desigual e a expectativa é que seja externada para representantes da Globo o descontentamento.

Enquanto não existe outra via para se fazer futebol, o público vai ao estádio para ser testemunha de partidas sem emoção e qualidade. A paixão pelo esporte tem se perdido e a perspectiva de futuro e desanimadora.

Alessandro Isabel é jornalista.

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