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Descontrolados

por Edson Almeida em 25 de Dezembro de 2013 11:38

A maioria esmagadora dos torcedores que falam no rádio, reclamando contratações e títulos, parece que não tem a clarividência do que seja um cidadão ou instituições endividados, sem dinheiro para pagar seus compromissos, com o nome sujo na praça e a alcunha de caloteiros.

Insensatos! É igual ao cara que em lugar de comprar uma tapera razoável para meter a cabeça embaixo com a família se arvora a comprar mansão em condomínio luxuoso e começa logo a atrasar desde a primeira prestação. Fica todo mundo sabendo que se trata de um vizinho lenhado e só se o cara não tiver um mínimo de sensibilidade para continuar de cabeça erguida. Aliás, quem deve nunca fica de moral elevada, é sempre um inadimplente, diante de penalidades comerciais e do escárnio da sociedade, que é muito cruel.

Quando eu era menino, nos meus tempos do primário, com oito anos, recebia uma nota de cinco por semana para comprar a merenda que um senhor Agapito vendia com a permissão da diretora do Grupo Escolar General Osório, em Itabuna. Dava para comprar uns vinte pasteizinhos e cinco copos de suco de cajá. De segunda a sexta, quatro pasteizinhos e um suco por dia. Numa segunda-feira, comprei tudo de vez, fiz um festival de merenda, promovi uma festa com a classe inteira. E como cheguei triste e pensativo em casa, minha mãe descobriu o motivo e me deu um conselho que carrego para a vida inteira.

- Divida sua ração de cada dia, porque isso sim é solidariedade, mas não cometa a arrogância de gastar tudo de uma vez, sem saber de onde tirar o dinheiro, porque na vida todo mundo é bonitinho, mas no dia de temporal o guarda-chuva da gente desaparece.

Só adulto comecei a entender que, realmente amigos e aderentes, aconselham sempre para que se façam loucuras, que o sujeito compre uma casa melhor, que troque de um carro popular para um desses motorizados de última geração, que o dirigente de clube traga grandes reforços, mesmo que não tenha como pagar, porque o importante é ganhar jogos e títulos, até se diz que a torcida paga. Aí vem aquela máxima de minha saudosa filósofa mãe: na hora da cobrança, todo mundo se pica e leva o guarda-chuva para que o cidadão se molhe até morrer afogado em dívidas e desmoralizações.
O Bahia e o Vitória estão certos quando hesitam em contratar os craques que os atrevidos (ou irresponsáveis?) torcedores indicam. Afinal, o Bahia está tentando sair do livro dos endividados, das imprevidências e das frustrações, e o Vitória, que parece já haver encontrado o início de um caminho decente e bem pavimentado, não pode mais voltar aos tempos de loucuras e incertezas.

Só uma coisa os torcedores podem exigir e contam com o apoio deste quase aposentado cronista: a de que os dirigentes, que por livre e espontânea vontade assumiram os comandos dos dois grandes times, se exercitem exaustivamente no sentido de encontrar meios de formar equipes competitivas dentro dos orçamentos disponíveis, bem abaixo de uma dezena de outros clubes brasileiros favorecidos pelos donos do futebol, que são a Rede Globo de Televisão e a CBF.

Porque é muito mais lucrativo substituir a arrogância dos falsos ricos por uma política equilibrada, saudável e de resultados construtivos. Para evitar que os cartórios de protestos fiquem abarrotados de nomes de pessoas financeiramente descontroladas.

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