Entre 5h e 5h30 da manhã, aqueles árbitros hospedados no SESC de Piatã acordaram, arrumaram-se, vestiram suas camisas e saíram para encontrar um sol ainda dormindo.

Às 6h tomariam um belo café da manhã, seguindo as orientações de ontem, danutricionista Mônica de Paula Seabra, se o estabelecimento servisse um àquela ingloriosa hora da madrugada.

Ao invés disso, os justiceiros da bola (que fazem jus às regras desportivas) foram para a praia com um estômago levemente enganado por algumas frutas e esse tipo de coisa. Quem os aguardava era Carlos José de Pinho Espinheira Filho, o preparador físico do Sindicato Baiano de Árbitros de Futebol (SINBAF).

Segundo Arilson Bispo da Anunciação, presidente do sindicato, esse treinamento físico foi “moderado em intensidade”, em virtude das atividades vespertinas noEstádio Manoel Barradas e do teste físico de amanhã. “Foi mais voltado para manutenção das aptidões físicas”.

Basicamente um trabalho de circuito, no qual se dividiram 5 grupos para fazer exercícios que envolviam agilidade, velocidade, etc. A cada 5 minutos trocava-se de posição. Esse circuito era feito por 2 vezes, totalizando 50 minutos, ao final dos quais mais 10 foram acrescidos para o alongamento.
 

Marcio Rezende em palestra. Foto: Caloan Guajardo

Finalmente às 8h, quando o café-da-manhã se encontrava disponível, puderam se saciar. Tiveram uma hora para forrar o estômago e se dirigirem ao auditório para assistir à palestra “Arbitragem e a Busca Pela Excelência”, com Marcio Rezende Freitas, da FIFA, comentarista da Rede Globo de Minas e Aristeu Leonardo Tavares, inspetor de árbitros da FIFA e da Confederação Sul-Americana de Futebol.

“Se o cara não é inteligente, que compense isso sendo muito esforçado”, disse Marcio Freitas. Para os mais sensíveis, basta saber que essa foi uma das ácidas verdades mais tenras proferidas por ele.

Para reforçar o ponto de que só talento e familiaridade com o universo futebolístico não bastam, apoiou-se numa citação do boxeador Muhammad Ali: “Os campeões não são feitos em academias. Os campeões são feitos de algo que têm bem lá dentro deles – um desejo, um sonho, uma visão. Eles precisam ter a habilidade, e a vontade. Mas a vontade precisa ser mais forte que a habilidade”.
 

Foto: Caloan Guajardo

Num breve teste teórico, pediu que os juízes formassem grupos e fizessem uma lista, em 10 minutos, com os principais atributos que um árbitro deve, idealmente, possuir nos seguintes aspectos: Técnico, Mental, Social e Físico.

As respostas deixariam orgulhosos tanto o Massimo Busacca quanto o Roberto Rosetti, ou qualquer filósofo positivista darwinista. O maior problema é sair do romantismo e pôr em prática tudo aquilo.
 

Foto: Caloan Guajardo

E aí é que entra a parte mais delicada desse quesito: o Livro de Regras. Estas são poucas, mas as ambiguidades nelas contidas podem exigir muito da interpretação de um ou outro profissional. Nesse ponto, chega a ser como a Bíblia ou o Alcorão: ou realmente se lê a obra exaustivamente até se tirar todas as dúvidas, ou estas podem levar, se não ao fanatismo, pelo menos a erros primários, como o que foi exposto após a fala de Marcio Rezende.

O almoço foi servido ao meio-dia. No prato de alguns, apenas o essencial para um bom sustento durante a tarde. No de outros, a salada estava presente apenas em espírito, uma vez que a tentação do caruru, do abará, do vatapá e do acarajé com cara de kibe, além da moqueca de ovo, era demasiadamente poderosa.
 

Foto: Caloan Guajardo

Por volta das 13h, todos já estavam reunidos num dos campos de treinamento do Barradão, quando o time juvenil do Vitória foi convocado a simular situações reais de jogo, em especial lances polêmicos e que demandavam forte presença efibra moral do árbitro.
 

Foto: Caloan Guajardo

Os assistentes dividiam o espaço, entretanto, claro está, as situações eram outras não menos importantes.

No final da tarde, lá pelas 17h, o sol que tanto castigou a população local, começava a dar sinais de fraqueza, enquanto Aristeu Tavares continuava a instruir sua tropa temporária, tirando-lhes dúvidas acerca de conduta em campo em situações como, por exemplo, quando o fair play entre os jogadores fica tão volátil quanto Ética e Moral nos bastidores da política nacional.
 
*Informações do site da FBF